"Memórias com História", recolhas da tradição oral madeirense
- zearaujo1
- 19 de out. de 2021
- 4 min de leitura
Arquivo ACH - 4-4-2020
Caras/os associadas/os e amigas/os
Hoje é sexta-feira e cá estamos de novo, esperando que continuem a passar estes tempos o melhor possível, nas vossas casas ou trabalhos. Em resposta ao recente apelo da Associação Casas com Histórias a que nos enviem histórias e/ou imagens de casas e das suas gentes, evocadas por vós ou por outros, temos recebido vários links de referência, bem como textos e imagens, que agradecemos.
Estes contributos, e outros que venham a surgir, serão aqui divulgados nas sextas-feiras das próximas semanas de confinamento.
Recebemos e aqui partilhamos para (re)descoberta e deleite o e-book "Memórias com História", um conjunto de recolhas da tradição oral madeirense editado pela Direcção Regional de Educação em 2012.
Nele se diz, num dos testemunhos: "Recordar é viver. Decidido. Vou passar para o papel uma recordação daquelas que “marcam”, mesmo os mais cépticos" (p. 189). Que esta e outras referências (abaixo citamos algumas, respigadas deste livro) vos inspirem a "passar para o papel" as vossas memórias de pessoas e suas casas. Solicitamos que estas sejam identificadas e localizadas geograficamente se for o caso, e se possível documentadas com imagens e o que mais entenderem, para irmos construindo juntos um roteiro de "casas com histórias" da Madeira e Porto Santo.
Fiquem bem, com "Memórias com História".
A Direcção da Associação Casas com Histórias
http://www02.madeira-edu.pt/Portals/5/documentos/PublicacoesDRE/E_Book_Memorias/dwn_pdf_EBook_MemoriasComHistoria.pdf Quantas evocações de casas da Madeira e Porto Santo, como eram e como nelas se vivia, se brincava, cantava e contava, se orava, namorava, comia, trabalhava. A leitura destes registos da tradição oral transporta-nos a lugares, moradias e gentes. Imaginamos casas na serra e à beira-mar, na cidade e nas vilas, casas grandes e pequenas, pobres ou fartas, antigas e recentes. Eis apenas algumas, colhidas ao acaso: "De volta a casa dos pais da senhora, foi uma alegria, pois havia já 5 anos que deixara a terra natal". p.147 "A nossa casa era de colmo, alcantilada em cima de um barranco. À volta com recantos ajardinados, terra batida, com alguns empedrados mal talhados". p.190 (Aluvião da Madalena do Mar, 1939, em que morreram 4 pessoas e foram destruídas 40 casas) "Levou o sítio mais bonito Sítio da Rua chamado Tinha muitas e lindas casas Lojas de comércio e atacado". p.207 (Henrique Alemão, cavaleiro de Santa Catarina, um dos primeiros povoadores da Madeira, que se estabeleceu na Madalena do Mar nos terrenos que lhe foram atribuídos por João Gonçalves Zarco) "Sua casa era um solar Dos mais ricos que havia Pratas finas, peças raras Diziam os que lá iam". p.210 "Antigamente, quando as pessoas tinham dores de cabeça ou a cabeça tonta não iam ao médico porque não havia médicos nem remédios como hoje, então alguém as curava com umas orações. Se achassem que era ar que tivessem, apanhado de alguma porta ou de alguma janela, então iam a casa da pessoa que sabia essa oração". p.233 "E daqui estou a ver A casa do meu amor Uma laranjeira à porta Carregada de flor." p.247 "(...) junto às suas humildes palhoscas, o rural cultiva um tipo de horta que espanta alguns dos visitantes estrangeiros, pela mistura das plantações: couves e milho entre trigo ou batata-doce e semilhas." pp.250-251 "No passado, este ofício (carpinteiro) era muito solicitado no quotidiano, em virtude das casas e de todo o mobiliário serem fabricados com a madeira". p.261 "Por vezes, os ferreiros descuidavam-se e não consertavam as suas ferramentas e não faziam a manutenção da sua casa. Então diziam-lhe: Em casa de ferreiro espeto de pau". p.262 “Tenho a casa numa enxovia!". p.284 "A freguesia de São Jorge teria ainda poucos moradores trazidos dos Algarves, como então se chamava e portanto os terrenos eram todos da coroa real. Cada casal fazia a sua casa rudimentar – madeira à volta, acarretada da Laurissilva às costas – coberta de colmo ou “restolho”, em cima da terra que não era sua. Mas um belo dia apareceram trabalhadores continentais especializados e começaram a construir uma casa de luxo para a época, muito bem situada num terreno que se chamava “Achada”, depois “Achada Grande”. p.305 "Muitas pessoas ficaram em suas casas e diziam que se tivessem de morrer, seria na sua própria casa." p.310 "Na Serra d’Água havia uma casinha que chamávamos a casinha dos soldados". p. 311 "Lembro-me de irmos comer a sopa a sua casa quando sobrava, e era uma sopa maravilhosa porque tinha tudo o que era preciso para fazer sopa". p.314 "Recordo-me do dia em que o meu pai quis tirar-me da casa onde eu morava. Mas, eu não quis ir." p.322 "(...) arrendou uma pobre casinha e abalou de “malas e bagagem” para a cidade". p.324 "(...) as pessoas juntavam-se em casa dos vizinhos para conversar, fiar o linho e a lã, e as noites mesmo iluminadas por um candeeiro pequenino a petróleo rendiam (...). Agora cada um fica em sua casa com a companhia da televisão (...)." p.326 "A minha avó contava que, antigamente, quando ela era jovem, se alguém estava doente em casa e que gemia e gritava, as pessoas que viviam nessa casa tinham que cantar para ninguém saber porquê, se descobrissem iam a casa homens que levavam as pessoas numa rede e nunca mais apareciam". p.326 "Na casa dos nossos pais não havia condições como a casa onde vivemos agora. Éramos nove irmãos a viver e a dormir debaixo do mesmo tecto. (...) A casa era muito pequena. Uma cozinha muito fraca, uma casa de banho improvisada e um quarto de dormir para nós todos". p.334 "(...) já antes dos anos 1900, fazia-se teatro em S. Jorge, porque nessa época já estavam feitas as casas solarengas, com salas grandes, para que as pessoas se pudessem reunir e fazer as suas palhaçadas, onde muito se divertiam entre famílias e amigos". p.335 "A nossa casa tinha quatro quartos. Dois para uma tia e dois para nós". p. 341 "Quando eu casei, não havia eletricidade em casa. A iluminação fazia-se com candeias de petróleo e velas". p. 348 in MEMÓRIAS COM HISTÓRIA 1ª Edição – 2012 Conceção, Projeto e Coordenação: Direção Regional de Educação, Direção de Serviços de Educação Pré-Escolar e Ensino Básico - Nadina Mota. Coordenação do Ensino Recorrente: Anabela Chá-Chá; Bernardina Pestana; Joaquim Conde e Luísa Januário. Recolha, registo e autoria de textos: Alunos e Professores do 1º Ciclo do Ensino Básico Recorrente Colaboração: Direção Regional dos Assuntos Culturais - Manuela Marques Montagem: Anabela Chá-Chá Revisão: Luísa Januário Edição: Governo Regional da Madeira - Secretaria




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